Conceito proposto pelo filósofo camaronês Achille Mbembe, a necropolítica explica como as sociedades mobilizam o aparelho de Estado para hierarquizar a vida e distribuir a morte

Quando já não se contam mortos um a um, precisamos nos perguntar: a morte verdadeiramente nos iguala a todos?

A persistência da brutalidade, quando submetida à investigação psicanalítica, retoma um problema clássico da filosofia: o do mal, o da sua origem, o da sua natureza, o da possibilidade de ser eliminado

A necropolítica é uma pura gestão da morte daqueles que não aparecem como vida viável nas sociedades contemporâneas, vidas que serão geridas como excedente, em zonas de exclusão

É o racismo que constitui a base da necropolítica, que direciona para os povos negros e indígenas a violência da qual a branquitude se protege e cuja responsabilidade a própria Europa nunca assumiu em relação às colônias

Na estratégia de desrealização dos mortos por Covid-19 que se soma à naturalização dos óbitos, o que está em jogo é a criação de uma economia das sensibilidades articulada à privatização da morte

Freud observa que a insegurança diante da alteridade estaria em princípio relacionada à inquietação provocada pela diferença de um outro “nómos”, fazendo do estrangeiro quase um sinônimo de corpo hostil

Observamos no Brasil a existência de uma matriz lógica que cria condições para a eliminação da vida a partir da especificidade do racismo brasileiro: a distinção pela “cor da pele”