Necromilícia: políticas de morte no contexto brasileiro

Necromilícia: políticas de morte no contexto brasileiro
Protesto em decorrência da morte das primas Emily Victoria da Silva, de 4 anos, e Rebecca Beatriz Rodrigues Santos, de 7 anos, em Duque de Caxias (RJ), em dezembro de 2020 (Foto: Jorge Hely Veiga/Shutterstock)
  O jovem Arthur Coelho, 21 anos, foi morto com sete tiros no aglomerado Morro das Pedras, na região oeste de Belo Horizonte, na madrugada do último 7 de setembro, dia em que a Independência do Brasil foi comemorada com motociatas e carreatas repletas de defensores de intervenção militar e de liberação de armas. Pelo noticiário, pouco sabemos a respeito da vida e da história de Arthur, a não ser que trabalhava como entregador de aplicativo. Conhecemos um pouco mais sobre o jovem através de sua irmã, Cristiane Ribeiro, uma amiga psicanalista e ativista de movimentos sociais como o Coletivo de Mulheres Negras N’zinga e a Rede Mães de Luta de Minas Gerais. “Todas as pessoas que convivem comigo nos últimos 21 anos conhecem ou já ouviram falar do Arthur”, declara Cris Ribeiro em uma postagem. “Esse pretinho lindo e sonhador! Todas as pessoas já me ouviram dizer do medo de que um dia ele virasse estatística. Mais um jovem negro morto da nossa Pátria Mãe Genocida. FOI HOJE! Hoje acordei com a notícia de que nunca mais veremos esse sorrisão. De que minha mãe será mais uma mãe preta que enterra um filho preto.” Pedi licença a Cris Ribeiro para prestar essa homenagem a ela e a seu irmão, porque para nós, autoras e autores negros, a necropolítica não é somente uma questão filosófica. Também perdi um primo e uma amiga de adolescência, assassinados durante o tempo em que fazia o meu doutorado sobre morte violenta. Mais tarde, já como professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), coordenava uma pesquisa intitulada “

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