Estratégias necrogovernamentais de gestão da pandemia de Covid-19 no Brasil

Estratégias necrogovernamentais de gestão da pandemia de Covid-19 no Brasil
Covas improvisadas em Manaus (AM) para as vítimas da pandemia de Covid-19 (Foto: Adobe Stock)
  Este texto foi originalmente escrito no momento em que o total de mortes por Covid-19 no Brasil ultrapassava 450 mil. Hoje, passado mais de um ano e meio, os óbitos superam a cifra de 688.656 pessoas. Quando a marca de 100 mil óbitos foi alcançada, alguns veículos de comunicação inventaram formas de representar esse número tão espantoso quanto inócuo, pois não parecia suficiente para afetar a sensibilidade de parte dos brasileiros a ponto de impelir maior respeito às medidas sanitárias e a execução de políticas públicas efetivas para o enfrentamento da pandemia. Em sentido contrário, a começar pela presidência da República, espraiando-se em seguida por outros níveis de governo e por setores da sociedade, multiplicavam-se as estratégias de esvaziamento do significado produzido por aqueles números. Tais estratégias vêm exercendo um papel crucial entre os dispositivos necrogovernamentais de gestão da pandemia no Brasil, particularmente dos milhares de mortes, ocorridos sobretudo entre os estratos mais pauperizados da população. A tendência continuada de crescimento das taxas de contágio e de mortalidade, somada à reação da comunidade científica e de parte da opinião pública nacional e internacional, impedia a simples negação das mortes, incitando a adoção de outra estratégia de gestão simbólica necrogovernamental da pandemia: a naturalização dos óbitos. Uma série de declarações de Jair Bolsonaro corroborou essa estratégia, a começar por uma manifestação em 27 de março de 2020, momento em que tínhamos 93 mortos pe

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