Memória e medo

Memória e medo

 

Lugar de Fala é o espaço dos leitores no site da Cult. Todo mês, artigos enviados por eles são publicados de acordo com um tema. O de julho de 2021 é “memória”


Caro leitor, o que lhe vem à memória quando lê a palavra memória?

Talvez lhe venha à mente, caso seja um aficionado por literatura, Memórias póstumas de Brás Cubas, Memórias de um sargento de milícias ou Memórias do cárcere. Um amante dos musicais da Broadway selecionaria imediatamente a canção Memory e vislumbraria os Jellicle Cats dançando sob a luz da Jellicle Moon. Já os cinéfilos se remeteriam aos famosos Brilho eterno de uma mente sem lembranças, Para sempre Alice ou Amnésia.

Apesar de se considerar aficionada por livros, amante de musicais e cinéfila, nenhuma das obras de arte mencionadas veio à cabeça daquela mulher ao ser questionada sobre o sentido que a palavra memória produzia nas suas entranhas.

Seu primeiro pensamento conectou-se ao medo de perdê-la e envolver-se em um sequestro no qual não há resgate. Um sequestro em que o refém se torna cada vez mais refém de um esquecimento desconcertante e impotente.

“Que eu passe a outra dimensão antes de me desfazer das minhas melhores e piores lembranças.

Que eu me livre do esquecimento que corrói vínculos e inutiliza saberes.

Que eu possa dizer os nomes dos meus filhos e dos meus netos até o último dos meus dias.

Que eu rememore os momentos instigantes da minha existência até o último pulsar das minhas veias.

Que eu continue a relembrar o que na noite passada me alimentou e qual foi meu último delírio elevado à condição de pensamento antes de adormecer.”

Memória: o medo de perdê-la torna a mulher algoz de si mesma, ao não lhe permitir desfrutar dos bons momentos que podem vir à tona ao invocá-la. Certo pavor ganha espaço quando lembra que não pode esquecer…

 

Déa Araujo, 60, é estudante do curso de Bacharelado
em Tradução na Universidade Federal de Juiz de Fora.

 

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