Educação para todos?

Educação para todos?
(Arte Revista CULT)

 

Por Dyane Macedo

Estudei toda a minha vida em escola pública, estadual e municipal. De todas as experiências que tive na minha vida escolar, a mais difícil foi, chegando ao Ensino Médio, entender como eu poderia lutar contra um sistema que, cada vez mais, faz o pobre entender que o lugar dele não é na universidade.

Quando escolhi o que faria na graduação, me deparei com o fato de que não sabia nada sobre programas sociais no campo da educação. A única coisa que eu conhecia era o vestibular da USP e as faculdades particulares, que entendia que não seriam uma das minhas opções.

Foi nesse tempo que entendi como a falta de uma boa divulgação sentencia muitos estudantes a aceitarem a condição de não conseguirem iniciar o ensino superior. Tive que fazer muitas pesquisas, correr atrás de instituições; uma verdadeira maratona para identificar possíveis oportunidades para pessoas de baixa renda. Percebi que a maioria dos meus colegas esperava que a escola fizesse esse papel, os preparasse para a universidade, mostrasse caminhos e portas que poderíamos usar para sair de ciclo familiar que sempre entendeu que o ensino superior foi feito pela e para a elite, para os filhos dos ricos.

Falta à escola esse pensamento. Parece que, ao chegar no ensino médio, o único objetivo da escola é que esse aluno saia o mais rápido possível dela, sem prepará-lo para o próximo passo.

Em contrapartida, em escolas particulares, os alunos se preparam desde cedo para enfrentar a maratona de vestibulares, focarem em instituições de acordo com o curso desejado e a se sentirem parte importante da sociedade.

O que eu esperava e espero é que todas os caminhos, oportunidades e possibilidades fossem divulgadas para os alunos; todos os cursinhos gratuitos, programas do governo, bolsas particulares. É preciso que haja clareza em todos os momentos, para que os alunos possam escolher o seu próprio futuro, baseados em informações concretas e não na falta de opção.

Ainda dentro desse cenário, é impossível não fazer um corte de gênero, mostrando que, mesmo em pleno século 21, muitas meninas deixam de estudar porque a família espera que elas cuidem dos irmãos, ou que comecem a trabalhar muito cedo, para completar a renda familiar. Mesmo com todos os avanços, nossa sociedade é muito machista. Eu enfrentei muitas pessoas falando que o curso que eu escolhi não era para mim, e que o dinheiro usado na faculdade poderia ajudar a minha família a ter um alívio no fim do mês. Isso não deveria ser nossa responsabilidade, não na idade em que deveríamos estar preocupados com a nossa formação e o nosso futuro (mas essa já é outra discussão).

Pelo último censo do MEC, do ano de 2017, vimos que o número de matrículas em cursos superiores aumentou muito nos últimos anos, mas esse aumento precisa ser refletido em todos os lugares da sociedade, principalmente nas periferias e, para que isso aconteça, precisamos fazer com que a informação chegue em todos os lugares. A maior arma do povo é o conhecimento, e é com ele que temos o poder de decidir sobre nossas próprias vidas.

Dyane Macedo, 31, é analista de sistemas em São Paulo-SP

 

 

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