Eleições e os 165.000 motivos de mudanças

Eleições e os 165.000 motivos de mudanças
O tema da seção Lugar de Fala do mês é 'eleições'. (Foto: Reprodução/Arte Revista Cult)

 

Lugar de fala é o espaço dos leitores no site da Cult. Todo mês, artigos enviados por eles são publicados de acordo com um tema. O de novembro de 2020 é “eleições”.


As eleições chegaram novamente. Ainda não para presidente e governadores, os cargos de mais alto comando do poder executivo, porém já está mais do que na hora de mudanças urgentes e, infelizmente, temos mais de 165 mil motivos para isso!

A pandemia nos trouxe motivos para parar e pensar. Muito mais: para nos reformularmos.

É hora de pisarmos no freio. De desacelerarmos. De passarmos mais tempo com os nossos. De repensarmos hábitos alimentares, relacionamentos tóxicos, trabalho em excesso. De darmos mais valor à vida do que ao dinheiro. “Time is not money after all”. Tempo é vida, é saúde, é família, é conscientização. É viver ao invés de seguirmos só sobrevivendo.

Não podemos ignorar isso! Temos que pensar no próximo. De ensinarmos nossas crianças que não é sinal de fraqueza chorar. Que não é covardia sair de uma luta. Que perder faz parte da vida. Que menino também pode brincar com boneca. Que menina também pode gostar de carrinho. Que meninos podem vestir rosa e meninas podem vestir azul. Que o próximo também tem seu valor, inclusive os candidatos a futuros indigentes desta pandemia. Que há pessoas que são fisicamente diferentes, mas que, na essência, são iguais a nós e merecem respeito. Que pessoas são mais do que números. E que ser político, é, na verdade, “estar” político. Chega de mais do mesmo. Acho que foi um “velho” político que disse que “acabou a mamata”. Pois é…

O mundo é nosso! É meu e é seu! É dessa futura geração. É dos nossos filhos e filhas. É nosso lar, nossa casa, e precisamos cuidar mais dele. Se não cuidarmos do próximo, especialmente dos mais vulneráveis; das minorias que querem ter seu lugar no mundo; ou das maiorias fáticas que ainda são vistas culturalmente como minorias, como as mulheres, nos manteremos presos num mundo que já se encontra em colapso. O teto já está desabando sobre nossas cabeças, as paredes já estão emboloradas de mofo e, assim como uma casa, precisamos fazer os devidos reparos, para criarmos sustentáculos firmes e fortes para deixarmos de herança aos que vem por aí.

No mais, um recado aos ditos “maricas”:

– Aos “maricas” que madrugam, que tem que pegar um ou mais transporte público para chegar ao trabalho;

– Aos “maricas” que não têm condições de ter um plano de saúde, que tem de se valer do SUS, que aguardam meses só para agendar consultas e exames e mais algumas horas para serem atendidos;

– Àqueles “maricas” que não podem colocar seus filhos numa escola particular para que tenham uma educação de qualidade. Que se valem de um ensino público já arcaico, com escolas velhas, goteiras, com o reboco aparecendo e que, às vezes, nem professores tem ou merenda;

– Aos “maricas” que aprendem (na marra) que tem que trabalhar sempre no limite, laborando de sol a sol, que tem de dar “sangue e suor” pela empresa, sendo constantemente desvalorizados, com salários baixos, sem nem o direito ao tempo para cuidar de si, de estudar, de estar com a família; mas são doutrinados que se, se esforçarem muito, irão conquistar seu lugar ao sol;

– Àqueles “maricas” que são vistos como marginais, que são os protagonistas da necropolítica administrada pelo governo atual, que têm seus pais, tios, avós etc. mortos pela polícia ou em confronto policial, e que crescem sem referência de pai ou de mãe, que aprendem, desde criança, que a violência é o único caminho para se manterem vivos neste “mundo cão”;

– Àqueles “maricas” que são relegados às favelas, às regiões muitas vezes sem saneamento básico, que moram em palafitas e que mesmo assim, numa política meritocrática hipócrita, cruel e desleal, não são bem quistos nos espaços públicos, andando nas ruas com um constante sinal de “Cuidado! Bandido!”, sempre sob o olhar atento e preconceituoso dos seguranças de shopping ou da elite deste país;

– Aos “maricas” que não podem ser o que são, que têm que se “esconder dentro do armário” para não serem expulsos de suas casas e, quando isso ocorre, para sobreviverem, têm que se submeter à prostituição, se marginalizam, sofrendo violências de toda sorte, desde palavras, passando por violências físicas e até morte. A sua simples existência já ofende os ditos “machos”;

– Aos “maricas” que perderam seus entes queridos nesta pandemia da “gripezinha” e que não contam com um hospital padrão “Sírio Libanês”.

A esses “maricas” eu recomendo: na hora de votar é obrigatório máscara, documento com foto e, principalmente, memória boa (para lembrar das barbaridades que lhes foram cometidas e das promessas falsas e não cumpridas) e consciência de classe!

Bom voto!

Guilherme Dias Trindade, 35,
é advogado e mora em Santos-SP

 

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