Vem revolucionar também?

Vem revolucionar também?
(Arte Revista CULT)

 

Por Lorena Azeredo Germano

Veja que ironia, nosso imediatismo nos trouxe até aqui: ao ponto em que não se pode mais pensar somente no agora, no eu, no que é meu e para mim. É preciso se esforçar, esticar o braço e a imaginação para alcançar mais longe.

Há muito tempo já não deveríamos, como sociedade, pensar assim, mas as narrativas consumistas eram atraentes. Vendiam ideias pré-fabricadas de desenvolvimento, sucesso… A luz no fim do túnel das opressões. Só que o túnel não acabava e o que parecia luz era só outra forma de oprimir – e mal havia chance de questionar. Quem nos salvaria da gente?

Mas agora é decisivo, passou tempo demais. Como diz o nome de um dos principais movimentos atuais de desobediência civil não-violenta: é rebelião ou extinção.

É desesperador pensar que a nossa espécie e tudo de mais complexo, delicado, bonito e emocionante que a gente conhece depende de uma utopia: todos ao redor da Terra conscientes, trabalhando pela mesma causa.

Justamente agora, quando tantos tiranos estão saindo do armário.

Quando nos mais diferentes círculos, a sensação é de fracasso – como indivíduo, como sociedade – e sentimos o peso da falta de perspectiva. Acreditar se tornou, ao mesmo tempo, tarefa árdua e a única coisa que pode nos fazer agir para, então, sair deste lugar.

O mundo está vivendo tantas crises, que não parece justo te convidar a lutar, mesmo que pela própria vida. Eu vejo suas outras lutas – e sei que há várias invisíveis também. Não parece justo mostrar que você tem responsabilidade, pedir que use a sua voz e força por mais essa causa. Queria te poupar disso, queria o planeta mais lindo e menos desigual pra você viver, com justiça ambiental e social. Não simplesmente paz, mas justiça.

Na última sexta-feira, 20 de setembro, vi jovens liderando a revolução. Fomos às ruas com nossos cartazes, estandartes e esperanças. Gritamos e cantamos sobre um futuro de amor e respeito à nossa casa e aos diversos (e biodiversos) habitantes dela. Ao redor do mundo, éramos mais de 4 milhões.

Acredito muito em respeitar o tempo das coisas, mas agora precisamos ser rápidos. Entender quais são as frentes de ação e agir: boicotar, ir às ruas, exigir ações do governo, encontrar a sua linguagem e comunicar (reunindo rodas de conversa, produzindo arte ou sendo exemplo).

A adversidade ensina a lutar, a resistir. E de adversidade nós entendemos, aprendemos demais. A incerteza é o que nos mantém caminhando, e não confortavelmente acomodados em qualquer verdade imutável, seja ela boa ou ruim.

Então volto a te chamar, porque a gente só consegue se for junto mesmo. E porque sei que essa briga é sua também, já que é íntima a relação dela com o que é importante pra você, com o que você quer preservar, realizar, e com tantas angústias que você não queria sentir. Vamos lutar com a coragem de quem imagina e constrói outro fim pra essa história, ainda que não o veja em vida. Porque não há nada em você que não seja natureza, exceto o que criaram para que você esquecesse quem é.

Lorena Azeredo Germano, 27, escritora e redatora no Rio de Janeiro (RJ)

 

Deixe o seu comentário

TV Cult