Tula Pilar

Tula Pilar
A poeta Tula Pilar, que faleceu em abril de 2019 (Foto: Reprodução)
  As copas de árvores e a imensidão do céu aberto ajudaram a transformar o terraço da Biblioteca Municipal Mário de Andrade, no centro de São Paulo, em terreiro de ancestralidade. A luz amarela nas roupas coloridas e os cabelos crespos permitiam ver naquela roda, de mais de 400 pessoas, a nutrição das trocas significativas. Arruda, manjericão, alecrim. Rosas brancas e vermelhas. Girassóis. Acarajé, espumante. Tambor. E a voz de Nega Duda. Para celebrar a escrita de mulheres negras. Vinte, das 26 autoras, contaram um pouco do que escreveram para a coletânea Inovação ancestral de mulheres negras: táticas e políticas do cotidiano, por mim organizada, editada por Maitê Freitas. Outras cinco não puderam estar em São Paulo naquele 30 de abril. E Tula Pilar, do Orum, era homenageada na presença de sua filha Samantha, seu filho Pedro Lucas e na leitura de seus poemas e prosa. Contei de quando nos conhecemos. Eu, estudante de jornalismo com menos de 20 anos, voluntária da revista Ocas; Pilar, que se tornara, havia pouco, vendedora da revista, fonte de renda para pessoas em situação de rua ou extrema vulnerabilidade social. A mulher de pele bem preta, com idade em torno dos 35 anos que tenho hoje, pouco falava. De ombros fechados e olhar baixo, sorria com timidez e contava orgulhosa de seus três filhos, Dandara ainda era bebê. Os anos a levaram a saraus e a convidaram à escrita. A literatura abriu seus ombros, levantou seu olhar e a fez escritora, poeta e atriz. A potência dos saraus periféricos forjou a artista Tula Pilar, tão amada e conhecida.

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