Quando não há aldeia para criar uma criança

Quando não há aldeia para criar uma criança
Imagem restaurada pelo projeto Retratistas do Morro, coordenado por Guilherme Cunha (Foto: Afonso Pimenta)
  A psicanálise considera que a parentalidade se dá dentro do contexto cultural de cada época e necessita do reconhecimento social para ser exercida. Assim, cabe perguntar quais condições de laço social temos oferecido aos pais — mais especificamente às mulheres — no exercício dessa função.  Em Um amor conquistado: o mito do amor materno (1980), Élisabeth Badinter apresenta como a atual idealização ideológica e moralizante da maternidade foi construída socialmente a partir do século 19, ao centralizar na figura da mãe “naturalmente devotada” o cuidado da prole. Esse recorte ideológico se faz ainda mais presente quando falamos de vulnerabilidade social, como proposto por Robert Castel em seu As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário (1995), no qual apresenta esse conceito não relacionado apenas à baixa renda, mas sobretudo à precarização do trabalho e, frequentemente, à fragilização das redes de apoio e das relações interpessoais. Essa condição torna as pessoas mais sujeitas às exterioridades negativas do capitalismo. Temos, então, somado ao desamparo fundamental do ser humano descrito por Freud, a vulnerabilidade dos cuidadores – sobretudo das mães, a qual, sendo de ordem social, torna-se fator de risco para a constituição subjetiva da criança. Vivemos num momento histórico regido pela lógica do capitalismo, no qual os filhos ocupam lugar central e, em alguns casos, entram como mais um item do consumo. O cuidado com os filhos ainda se encontra muito centrado na figura dos pais, principalmente da

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