Psicanálise e transidentidades em tempos de mutação epistêmica

Psicanálise e transidentidades em tempos de mutação epistêmica
“Joaninha” (2020), da série “Formas contrassexuais”, de Élle de Bernardini (Imagem: Cortesia da artista)
  Não foi preciso apenas um texto que aproximasse as transidentidades de uma epidemia para que ficasse escrachado o quanto o debate sobre diversidade sexual e de gênero é presente e está entranhado na psicanálise e em sua história, consequentemente refletido em algumas de suas posições teórico-clínicas. Se observarmos atentamente ao longo das décadas, desde a criação do termo “transexualismo”, em 1953, por Harry Benjamin, a psicanálise produziu uma série – uma verdadeira epidemia – de leituras pouco criativas, estigmatizantes e patologizantes sobre as questões trans. São questões que vão desde certas interpretações que tomam o caso Schreber, de Freud , como um momento inaugural desse debate na teoria, mesmo que o próprio Schreber nunca tenha se identificado como uma mulher, até teorias descritas por Robert Stoller em A experiência transexual (1975), em que a presunção de um pai distante e uma mãe excessivamente próxima, danosa à masculinidade do filho, performaria a combinatória que “produz” sujeitos trans. Temos ainda, em Henry Frignet, a distinção entre transexual e transexualista, pensada por uma diferença entre a estrutura psicótica e a perversa: a primeira com uma dimensão próxima do transexual verdadeiro de Stoller, seja lá o que isso queira significar, e a segunda mais performática, vinculada, pelo autor, ao funcionamento social característico do mundo contemporâneo. Tanto o frenesi por uma busca etiológica e diagnóstica como as prescrições do que é ou deixa de ser uma experiência transidentitár

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