“Poemas reunidos”, de Miriam Alves, e outros lançamentos literários

“Poemas reunidos”, de Miriam Alves, e outros lançamentos literários

 

Reunião de três peças tardias do dramaturgo e escritor irlandês: “Não eu”, “Passos” e “Cadência”. Em comum, os textos têm o protagonismo de personagens mulheres, como sugerido no título da coletânea. Boca, May e M., nessas breves tramas, ocupam ainda assim o lugar típico das personagens de Beckett, marcadas pelas “consciências cindidas, arruinadas, desencontradas de si, personagens para as quais já não há a fiança de uma identidade fixa ou a garantia de uma memória coesa”, como anota Fábio de Souza Andrade no prefácio à edição.

 

Ao entrelaçar direito, psicanálise, filosofia, antropologia e sociologia, a filósofa e antropóloga francesa Monique David-Ménard mapeia a relação da sociedade ocidental com os objetos inanimados. No lugar das fronteiras definidas entre o animado e inanimado, a autora questiona se o Ocidente não seria cultor de um animismo sutil e opaco. Assim, David-Ménard alça a questão à sua dimensão política. Como anota Virginia Ferreira da Costa no prefácio, o livro “revela o papel de mediação dos objetos na vinculação dos desejos à realidade sociopolítica, demonstrando como a opacidade das coisas impossibilita uma relação direta e transparente entre o individual e o coletivo”.

Romance histórico ambientado nos anos finais da ditadura militar brasileira. O dia 25 de janeiro de 1984, quando houve a grande manifestação conhecida como “Diretas já” na Praça da Sé, é o ponto de partida da narrativa. Enquanto assistem aos manifestantes na televisão, Fernanda e seu filho, Ernesto, recebem uma visita desconhecida que porta insuspeitas revelações sobre sua história. O acontecimento impulsiona recordações de sua trajetória no Brasil desde a década de 1950, entrelaçando a história pessoal com a política recente do país. “Em vez de mobilizar inebriadas massas eisensteinianas em um painel épico da catarse coletiva, Elisabetsky opta por uma sutil dramaturgia de afetos, baseada em um jogo de revelações e lembranças”, anota Irineu Franco Perpétuo na orelha da obra.

Entre a ficção, o relato pessoal e a pesquisa histórica, a escritora Adriana Armony tece um romance sobre a temporada de Patrícia Galvão na França, entre 1934 e 1935. Com a descoberta de novos documentos e fotos, de arquivos e hospitais franceses, a autora tenta se aproximar da figura histórica de Pagu para além dos mitos criados ao seu redor. Nesse movimento, escreve Beatriz Resende na quarta capa do livro, o romance se amplia e se aproxima da vida de outras mulheres: “os documentos trazem verdades, momentos da realidade de Pagu e outras mulheres, operárias, militantes, mas é uma voz de mulher que conta suas histórias”.

Marco da literatura holandesa do século 20, o romance narra a história de Jacob Willem Katadreuffe, filho bastardo de um oficial de justiça famoso pela frieza em executar seu trabalho. De formação simples e pobre, Jacob tenta se tornar advogado, enquanto o pai biológico, que não o reconhece, tenta atrapalhar a carreira do filho. A linguagem, simples e objetiva, mimetiza o universo burocrático dos escritórios de contabilidade, ao mesmo tempo em que tenta apreender a complexidade das relações humanas. Escrito em 1938, o livro foi adaptado para o cinema em 1997.

Reunião dos 40 anos de atividade poética da escritora paulista Miriam Alves, a obra reúne seus dois livros de poesia – Momentos de busca (1982) e Estrelas no dedo (1985) –, seus poemas publicados nos Cadernos Negros, três plaquetes editadas artesanalmente nos anos 2010 e publicações esparsas em revistas e antologias poéticas. Além dos poemas, a publicação conta com suas mini-autobiografias editadas originalmente nos Cadernos Negros, um depoimento para a revista eLyra e os prefácios originais de Momentos de busca e Estrelas no dedo. A reunião inédita da poesia de Miriam Alves ressalta sua interface lírica e política e reafirma seu papel na literatura afro-brasileira.


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