Os pais chegam antes

Os pais chegam antes
Imagem restaurada pelo projeto Retratistas do Morro, coordenado por Guilherme Cunha (Foto: Afonso Pimenta)
  A adoção traz à tona perguntas e fantasias infantis a respeito do enigma da origem, das nossas heranças gratas e non gratas e das ambivalências que permeiam as relações familiares. O clássico “descobriu que era adotado”, presente em tantas narrativas, exemplifica as inquietações sobre as diferenças e os descompassos entre pais e filhos. A “adoção tardia”, expressão amplamente utilizada para nomear a adoção de crianças a partir de três anos, adiciona ingredientes a esses questionamentos. Essa forma de nomear o fenômeno revela um preconceito, pois sugere que o prazo “normal” para a adoção estaria ultrapassado. Essas adoções estariam em condições especialmente precárias? E o que dizer quando a criança tem sete ou nove anos? Seria tarde demais para construírem laços de parentalidade e filiação? Casos malsucedidos, as chamadas “devoluções”, têm efeitos devastadores sobre os envolvidos. A criança sofre um segundo abandono, os adotantes naufragam em seu projeto de família, técnicos que acompanharam o processo sentem-se culpados. Envoltos em vergonha e silêncio, esses casos alimentam um imaginário obscuro acerca dessas adoções. Alastra-se a ideia de que adotar crianças seria um passo demasiadamente arriscado.     Discutir os desafios da constituição da parentalidade nas adoções de crianças é fundamental para enfrentar o problema coletivamente. Embora em crescente desuso, o imaginário de “fazer o bem” e a expectativa de que o filho adotado tenha gratidão aos pais já adquiriu tamanha consi

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