Orgulhos

“Não sei porque concordei em engravidar!” Essa foi a frase que veio à cabeça da jovem de 24 anos, grávida de sete meses, ao descobrir a traição do marido. Com o orgulho ferido, estampava na criança a decepção pela conduta imoral e covarde do esposo.

Desde que engravidara, o casamento ia de mal a pior. Durante os três primeiros meses, foram os enjoos. Seguiram-se a eles crises de coluna e episódios de infecções que, segundo o infiel, deixavam a mulher cheia de não-me-toques. Uma gravidez nem um pouco tranquila, tanto no aspecto físico quanto no aspecto emocional. Há dois meses do parto, ela encontrava-se literalmente redonda, inchada dos pés à cabeça e mal conseguia caminhar. Foi aventada a hipótese de uma gravidez de gêmeos, descartada através da ultrassonografia, que revelou também o sexo do bebê: uma menina robusta e perfeita nadava calmamente em seu aquário.

A mãe chorava compulsivamente ao mesmo tempo em que a rejeitava.

“Meu amor, não diga isso! Não culpe a neném, eu é que sou um fraco.”

Meu amor? Chegava a ser irônica a maneira como se dirigia a ela.

A mulher ouviu desculpas e promessas. Colocou uma pedra sobre os acontecimentos. Pelo bem da filha, decidiu manter o casamento. Na verdade, o marido a dominava, e ela o amava de uma maneira dependente. Sim, uma mulher traída torna-se dependente de um amor fraudulento. Uma segunda traição seria questão de tempo. Tudo muito mal resolvido.

Os preparativos se aceleravam para receber a pequena Letícia. Até que, em 27 de agosto, um mês antes do previsto, a menina resolveu vir ao mundo. O aconchego de mãe e filha reavivaram na mulher o sentimento materno. “A melhor coisa que fiz foi engravidar de você!”

Mãe e filha unidas por um cordão que jamais se romperia.

Mãe e filha unidas por laços indestrutíveis.

Mãe e filha unidas pelo orgulho de serem mãe e filha.

 

 

Déa Araujo, 60, vive na cidade de Juiz de Fora, MG.

Cursa Bacharelado em Tradução na Faculdade de Letras da UFJF.