O pânico antitrans e a cisnormatividade

O pânico antitrans e a cisnormatividade
Obras “Essa Coca é Fanta” (à esquerda) e “Os meninos brincam atrás da árvore” (à direita), ambas de 2019, da série “Frutinhas”, de Élle de Bernardini (Imagem: Cortesia da artista)
  O avanço, mesmo parcial, da visibilidade positiva e dos direitos coletivos da população transgênera nos últimos anos em diversos países – incluindo o Brasil – acompanha, contraditoriamente, um movimento de reação que acaba reiterando velhos preconceitos contra essa população. Diversos pesquisadores dos estudos de gênero se debruçam atualmente na compreensão da emergência dos vários movimentos reacionários que mobilizam noções como “ideologia de gênero”. Um diagnóstico bastante recorrente, ainda que um tanto preliminar, é de que tais movimentos se engajam em “guerras culturais”, nas quais a criação de “pânicos morais” é acionada como forma de mobilização do movimento conservador. A ideia de que hoje em dia exista uma espécie de “epidemia” social da identidade trans, sobretudo entre crianças e adolescentes, subentende que haveria um número crescente, “alarmante” e anômalo de pessoas se identificando enquanto trans, o que precisaria, de alguma forma, ser explicado. Um olhar mais atento mostra que, além de carecer de qualquer evidência empírica, a hipótese de “epidemia trans” reitera, de forma tácita, noções estigmatizantes sobre as identidades trans e, por consequência, o pânico moral. Muitos desses posicionamentos são feitos sob a justificativa de proteger a vida das pessoas da “epidemia trans”. A proteção aparece como uma arma importante para quem se opõe ao direito das pessoas trans. Os discursos transfóbicos são sustentados por uma premissa de que a afirmação de gênero é, na v

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