Nesta poesia, um gesto

Nesta poesia, um gesto
(Arte Revista CULT)
  Em um tempo de grandes certezas, discursos hegemônicos, eloquentes afirmações, falas prontas imbuídas de um sentido asseverado, como pretendem os meios de comunicação e a linguagem do poder dominante, a poesia tem mostrado que dar voz não prescinde de uma comunicação direta. Ir ao encontro do outro muitas vezes depende apenas de um gesto. E é como meio; como um meio, porém, sem finalidade, que a poesia se mostra enquanto gesto. Em um esforço de colocar em xeque estatutos redentores e detentores de alguma garantia, como a concepção de obra, o tom heroico que é dado ao poeta e tudo aquilo que poderia ser apreendido e enquadrado em um significado, muitos poemas e poetas têm se desapegado do tom programático, virtuoso, de uma proposta explícita e objetiva que atrela alguma finalidade à poesia. É assim que Victor Heringer, por exemplo, nega-se como poeta no poema “Não sou poeta”, na medida em que definições caricaturais de poeta vão sendo excluídas de sua identificação. Em O escritor Victor Heringer (2015), ele também retira o poeta do pedestal ao desconstruir a figura do próprio autor como um sujeito bem delimitado, definido e emissor de uma mensagem. Em uma espécie de minibiografia contada através de uma plaquete de fotos, mas não composta de autorretratos, de um percurso profissional, de uma cronologia biográfica nem de conquistas ou de prêmios, a desconstrução em torno do nome do autor é atestada no índice que, curiosamente, aparece só ao final do minilivro, em uma lista composta de partes do corpo e de objetos: “1) a m

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