Mortos em nossa subjetividade coletiva

Mortos em nossa subjetividade coletiva

 

Lugar de Fala é o espaço dos leitores no site da Cult. Todo mês, artigos enviados por eles são publicados de acordo com um tema. O de agosto de 2021 é “respeito”


Sorríamos freneticamente
em um mundo inventado,
compartilhado num simples toque de teclado,
esquecido logo após o like.

Bebíamos
feito gente desgraçada,
com comportamentos desregrados,
pensando sermos heróis rebeldes,
lutando pela liberdade
de dizer asneiras altas horas da madrugada.

Fingíamos
que éramos diferentes,
especiais em relação a toda gente,
imitando os mesmos comportamentos
em quadrados fechados
que transbordavam a mediocridade
de uma vida cheia de ausências.

Conversávamos
em tom guturais,
gesticulávamos abruptamente
por causa de eventos banais,
saciando nosso instinto
de se sobrepor à razão.

Mortos em nossa subjetividade coletiva,
vivíamos nossa individualidade
agrupada sem laços de empatia,
sem saber que as conversas da madrugada
enalteciam egos limitados,
engasgados em sensações fugazes.

Destruídos pela nossa incapacidade
de olhar além das bordas da nossa própria realidade,
observamos a vida se esvair,
cantando, aos gritos,
uma melodia de amor não correspondido,
esperando alcançar a felicidade
com o alívio da tensão
que o cotidiano repetitivo
impregna nos corpos de seus servos mais ativos.

 

Juliana Moroni, 43, nasceu em São Carlos, SP. Doutora em
filosofia pela UERJ. Professora, pesquisadora e escritora. Publicou
artigos e capítulos de livros com temática em pesquisa filosófica,
bem como poemas e contos em revistas literárias e em coletânea.

 

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