Montaigne cético?

Montaigne cético?
'De como filosofar é aprender a morrer', por Salvador Dali (Arte Andreia Freire)
  “Que sei eu?” Se existe algo como um “Penso, logo existo” de Montaigne, esta questão é uma boa candidata. Ele mesmo a transformou num emblema de sua reflexão, diz tê-la gravado numa medalha, sob a efígie de uma balança com os pratos equilibrados, representação da suspensão do juízo, conceito central dos antigos céticos. Mas tentando ser fiel ao seu espírito: até que ponto os Ensaios, com toda a variedade que essa obra comporta, cabem nessa pergunta filosófica – se é que cabem em alguma filosofia? Herdeiro tardio da tradição humanista, Montaigne se apropria continuamente de textos da tradição filosófica grega e latina, principalmente (mas não só) de antigos e pagãos, que lhe servem de base para variados exercícios do seu juízo (confrontados e combinados livremente com outras fontes de informação, eventos diversos e experiências pessoais). Platão e Aristóteles se fazem presentes, mas predominam os helenistas, Sêneca (cujas reflexões estoicas lhe servem para meditar sobre a morte), Lucrécio (modelo poético e porta-voz do epicurismo), Cícero (fonte dessas duas escolas e também do ceticismo proveniente da Nova Academia) e sobretudo Plutarco (cujas obras oferecem um modelo formal dos Ensaios mas também considerações filosóficas sobre estas escolas). Porém, por volta de 1576, quando teria cunhado a tal medalha, Montaigne leu os “Esboços de Pirronismo” do filósofo e médico grego Sexto Empírico, recém-traduzidos para o latim, período em que parece ter escrito boa parte da “Apologia de Raimond Sebond”, pre

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