A liberdade de expressão no trabalho diante da atual conjuntura política no Brasil

A liberdade de expressão no trabalho diante da atual conjuntura política no Brasil
Manifestação de estudantes na Esplanada dos Ministérios contra a reforma da previdência e cortes na educação, em julho de 2019 (Foto: Lula Marques)

 

Lugar de Fala é o espaço dos leitores no site da Cult. Todo mês, artigos enviados pelos leitores são publicados de acordo com um tema. O de janeiro de 2020 é “liberdade de expressão”. 


Por Jaqueline Gomes de Souza

Falar sobre liberdade de expressão em si abrange diversas vias nas quais
encontram-se muitos outros subtemas em micro e em macro observações. No entanto, mesmo por vias estruturais distintas relacionadas ao tema, a liberdade de expressão sempre se garantirá em sua síntese; isto é, ao direito que todo cidadão possui de manifestar suas opiniões sem receio de represálias e censuras.

Fato é que, diante deste direito, nos últimos dois anos, em decorrência das eleições, dos candidatos eleitos e graças aos espaços virtuais e das grandes mídias sociais, tivemos as maiores manifestações públicas sobre a política e suas provocações. Nos dois últimos anos, o Brasil se tornou um enorme palco para discussões, debates e disputas (que são ótimos sob o ponto de vista da liberdade de expressão em um país democrático), mas também formou-se uma grande arena de fake news, múltiplas brigas exacerbadas com conhecidos e desconhecidos, desrespeito sob os pontos de vistas dos mais discriminados e choques de opiniões que resultaram em inúmeros dilemas que se perpetuaram para vida pessoal e profissional.

Dentro destes, muito se reflete nas relações de trabalho, visto que historicamente as intenções das grandes corporações e companhias dificilmente estarão em consonância com a dos seus empregados – e isto não é um fato exclusivo do Brasil; esses enfrentamentos já percorreram por toda América Latina. Entretanto, defronte a uma crise econômica em que o nosso país insiste em se manter e estando na condição de empregado, apresentar-se contrário às convicções políticas ou partidárias daqueles que fornecem as provisões salariais pode evidenciar um instrumento de pressão psicológica do qual o sujeito, como dependente deste sistema, limita-se em conter suas ideologias por receio às narrativas de retaliação.

Não é novidade que esses novos “votos de cabresto” se encontram nas camadas mais vulneráveis da população e são, de certo modo, ainda difíceis de denunciar, pois a necessidade de sobreviver é o alicerce da exploração de inúmeros sistemas. Ainda assim, foram muitos os relatos e denúncias de ameaças e abuso de poder econômico durante as eleições contra
grandes empresas conhecidas no mercado, mesmo que esta prática seja vedada pelo Ministério Público do Trabalho. Manifestar-se publicamente sob o víeis político e partidário do país tornou-se comprometedor demais para continuar sendo prejudicado, afinal, os donos do povo, são os donos da política.

Frente a este cenário, convido-os a refletir: Até onde vai a liberdade de expressão dentro das estruturas sociais do trabalho diante da atual conjuntura política do país? Será que estamos na presença de uma censura mascarada pela necessidade e manutenção de nossa subsistência?

Evidente que tais apontamentos não se achará em uma resposta pronta muito menos simples, mas por certo, haverá um desconforto real naqueles que nutrem o desejo de emancipação efetiva da liberdade de expressão para aqueles que sentem-se oprimidos de alguma forma. Não é justo que se calem, não é justo que nos calemos, e como alento a quem combate esta desagradável estrutura capitalista que hoje maltrata e sustenta a desigualdade, dedico as palavra de Eduardo Galeano (1970) para todos os corações que sentiram-se rejeitados “porque nas histórias dos homens, cada ato de destruição encontra sua resposta, cedo ou tarde, num ato de criação.” Nesta atual circunstância política em que nos encontramos, cada ato de expressão é um ato de resistência, expressar, mais cedo ou mais tarde, refletirá em um evento de coragem. Sigamos em frente.

Jaqueline Gomes de Souza é estudante de pedagogia e trabalhadora.

Deixe o seu comentário

TV Cult