Inveja primordial: o gozume e a psicanálise

Inveja primordial: o gozume e a psicanálise
Julgamento das irmãs Christine e Léa Papin, em 1933 (Foto: Wikimedia Commons)
  Debater o tema da inveja na psicanálise implica trazer um conjunto de questões que estabelecem o estatuto do inconsciente como ético. Vigente desde muito cedo, a presença da inveja alerta para o estatuto ético do inconsciente desde as formações primárias do eu. Para Jacques Lacan, psicanalista francês em foco aqui, a inveja é um afeto primordial. Levado por sua clínica e também pela leitura da tradição pré-medieval de Santo Agostinho, permanecerá desde os anos 1930 como um campo que se constitui em tempos imemoriais no pequeno homem. Uma passagem das Confissões, de Santo Agostinho, descreve uma cena em que uma criancinha de colo empalidecia de inveja ao ver seu irmãozinho de leite partilhando o seio da mesma ama. Contudo, há algo além do que os psicanalistas apontavam. Ao se perguntar o que seria essa inveja primitiva na primeira infância se lhe fosse negado o estatuto de pecado – como querem as mães, desculpando seus rebentos por não haver consciência volitiva nessa fase da vida –, Agostinho interroga, ainda assim, o que seria isto que o in-fans, antes mesmo de falar, flagrantemente manifesta como inveja de seu irmãozinho de leite. E avança: inocência não é. “O que é inocente nas crianças é a debilidade dos membros infantis, não a alma.” Poderíamos então aventar que essa inocência problematizada por Agostinho nos bebês se torna em Lacan – leitor de Freud – inconsciente? Desde “A agressividade em psicanálise”, de Lacan, de 1948, Santo Agostinho aporta recurso ao psicanalista francês. Nos anos de 1958-

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