Homens e armas

Homens e armas
A arma é vendida, no fundo, como promessa de restituição de sentido, um retorno à virilidade perdida (Foto: Rony Hernandes)
  Para compreender as forças em jogo na construção das masculinidades é preciso não só conhecer seus determinantes históricos e conceituais, mas verificar como elas efetivamente se aplicam e qual a extensão de seus efeitos. Tomemos como caso paradigmático o prometido decreto sobre a flexibilização na posse de armas de fogo, assinado no mês passado. A princípio, trata-se do cumprimento de uma promessa de campanha de Bolsonaro que teria como objetivo armar o dito “cidadão de bem” e, assim, diminuir a violência no país, a despeito da esmagadora maioria dos estudos que comprovam que o impacto sobre a segurança pública é negativo, ocasionando muito mais mortes por arma de fogo do que inibindo a criminalidade. Mas supor que o decreto, suas raízes e consequências se explicam apenas por uma promessa de diminuição de violência seria equivocado. Para além da pirotecnia da medida, é importante lembrar que a liberação da posse de armas tem forte e incontornável componente de gênero. Em primeiro lugar, seu público-alvo são homens. Homens violentos, homens amedrontados, homens frágeis, homens curiosos e homens que ostentam terão, agora, no fetiche da bala, uma ilusão de solução de seus problemas, reais e imaginados. Esse é o que pode ser chamado de “apelo semântico” da medida. Está em jogo fornecer uma significação, uma identidade para vivências que – tanto em decorrência das conquistas da luta feminista, quanto do real aumento da violência no Brasil e de seu alardeamento sensacionalista – se sentem fraturadas e se

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