Feliz Ano Novo

Feliz Ano Novo

Encontrei o livro de Ruy Belo (1933-1978) chamado “O problema da habitação – Alguns aspectos” (Sete Letras, 2013, 53 p.) por acaso, esta semana, na estante de poesia da Travessa de Visconde de Pirajá. A estante de poesia é um lugar onde eu procuro a esperança de felicidade guardada pelos outros.

Capa do livro “O problema da habitação – Alguns aspectos”, de Ruy Belo

A publicação da obra de Ruy Belo no Brasil é coordenada por Manoel Ricardo de Lima que é também um grande poeta, um escritor de quem gosto muito. Júlia Studart é responsável por nos ajudar a entender Ruy Belo numa introdução perfeita à essa poesia como “revolta incondicional”. O “lugar inseguro do homem no mundo moderno” é uma boa explicação para a “condição horizontal” (seria algo como um sentimento de horizontalidade? Creio que não apenas) com que esse livro nos põe em contato.

Vou passar o Ano Novo, com todo o respeito aos deuses, meditando sobre a condição horizontal.

Meu presente (eu precisava digitá-lo) de Ano Novo para todos:

Figura jacente

Meu rosto nasce desta condição horizontal
de quem tem a cobri-lo todo o seu cansaço
Deus teve para mim morte mais rasa
do que a morte que o sol encontra entre as águas
Desfez-se a curva última da estrada
nada ficou após meus gastos passos

Ninguém morrera ainda tanto como eu
só tive de estender um pouco mais o corpo
Sobre o meu rosto passam uma a uma as gerações
e vem lavar-me a água os velhos pés
E diz-me Deus, tão acessível como o mar nas praias:
– Tu és cada vez mais aquilo que tu és

Há entre as oliveiras sítio para o sol
e a brisa da infância canta rindo nos ramos
entre o cheiro do giz e as canções da escola

Deus é perto de mim como uma árvore

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