Félix querido,

Félix querido,
(Foto: Reprodução)
  Quando comecei a escrever esta carta, eu acabava de ver uma entrevista que você deu para um programa de TV, um ano antes de tua morte. Em uma de tuas respostas, você disse o que entendia por amizade naquela altura de tua vida. Cito aqui tuas palavras para refrescar tua memória: “o amigo é aquele que se volta em direção a, que se volta em direção ao outro, e que constitui o outro. Não obrigatoriamente em uma relação de identificação, porque a amizade é paralela a uma relação agônica, mas que, nessa relação singular com o outro, abre um certo universo. Na cumplicidade amistosa há sempre um terceiro termo que é o mundo que se está tecendo, que se está trabalhando. E a amizade socrática não é algo que se resolve em uma identificação homossexual, numa incorporação do outro; é algo que está ali para lançar o fio de uma teia que excede totalmente as relações interpessoais e que dá consistência a um certo tipo de objeto, os objetos conceituais”, “os quais adquirem uma existência autônoma”, como complementaria Gilles. Suponho que vocês diriam ainda que, nessa teia, outros tipos de objetos podem igualmente surgir, ganhar consistência e se tornarem autônomos: uma mutação existencial, um espírito reerotizado, mas também uma obra da assim chamada “arte”, uma canção e tantos outros. Fiquei pensando nesta tua ideia de que a amizade lança o fio de uma teia e fui procurar como é isso nas aranhas, de onde você extrai essa imagem. Me surpreendi ao saber que o fio de seda que a aranha lança no ambiente, fabricado numa

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