A fascinação pelo teatro

A fascinação pelo teatro
Clarice deixou somente um pequeno texto dramatúrgico, 'A pecadora queimada e os anjos harmoniosos' (Acervo Clarice Lispector Instituto Moreira Salles)
  Clarice Lispector é conhecida e reconhecida como romancista e contista, mas não como dramaturga. No entanto, “quando eu tinha nove anos, eu vi um espetáculo e, inspirada, em duas folhas de caderno, fiz uma peça em três atos, não sei como. Escondi atrás da estante porque tinha vergonha de escrever”. Foi o que contou em entrevista concedida em 1976 à escritora Marina Colasanti, ao poeta e crítico Affonso Romano de Sant’Anna e a João Salgueiro, diretor do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro. Além da experiência infantil, que recebeu o título de Pobre menina rica, Clarice deixou somente um pequeno texto dramatúrgico, a tragédia A pecadora queimada e os anjos harmoniosos, cuja protagonista não tem nome e é tratada apenas como “aquela que errou”, “aquela que será queimada”, a “estrangeira”, ou, conforme aparece já no título, a Pecadora. E permanece em silêncio durante toda a peça, em silêncio absoluto, o que perturba e inquieta as outras personagens –  o Povo, a Mulher do Povo, o Esposo –, principalmente quando, sem romper o silêncio, esboça um sorriso. A peça, publicada na primeira edição de A legião estrangeira (1964), foi encenada pela primeira vez no projeto Jornada Sesc de Teatro 92 – Em Cena: Textos Curtos, com direção de José Antonio Garcia. Em 2006 foi remontada por Nicole Algranti e em 2019 ganhou uma encenação de leitura no projeto Quartas Dramáticas, que eu coordeno na Universidade de Brasília (UnB). As aproximações de Clarice Lispector com o teatro foram intensas, como fica eviden

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