Erundina: Nós precisamos, podemos, queremos e temos direito a ter poder

Erundina: Nós precisamos, podemos, queremos e temos direito a ter poder
Luiza Erundina (Foto: Bob Sousa)

 

 

Uma vida dedicada à política, ocupando posições de destaque. Aos 24 anos de idade foi nomeada diretora de Educação e Cultura da Prefeitura Municipal de Campina Grande, na Paraíba, antes de ser secretária. Em São Paulo, foi eleita vereadora, deputada estadual e prefeita, pelo PT. Depois, ministra da Secretaria da Administração Federal no governo Itamar Franco e, já no PSB, eleita deputada federal por quatro mandatos consecutivos. Como é ser essa mulher poderosa, quando, no Brasil atualmente, não temos nenhuma mulher ministra e menos de 10% das cadeiras da Câmara Federal são ocupadas por mulheres? “Meu poder vem do povo. É nisso que eu acredito, o que me move, e que me mantém até hoje, neste estágio de vida, dando minha modesta contribuição para mudar São Paulo”, responde Luiza Erundina de Souza.

Aos 82 anos de idade, a pré-candidata à prefeitura de São Paulo pelo PSOL respondeu a algumas perguntas da revista CULT, durante o evento promovido pela Rede Nossa São Paulo para que candidatos assinassem a Carta Compromisso com o Programa Cidades Sustentáveis. Além de Erundina, assinaram o documento Ricardo Young, pré-candidato pela Rede Sustentabilidade, e um representante de João Dória, pré-candidato pelo PSDB. Como quem discursa em praça pública para uma multidão, Luiza Erundina falou firme ao microfone, em tom de palavras de ordem: “O que diferencia candidatas e candidatos é o método de gestão, se essa pessoa governa com o povo. Honestidade e ética são pressupostos, não qualidades”. A Cinesala, na Fradique Coutinho, zona oeste de São Paulo, foi preenchida pelos aplausos entusiasmados que, por quatro vezes, interromperam a eloquência da mulher pequena de cabelos brancos no centro do palco.

Como é ser uma das poucas mulheres de destaque na política brasileira?

Isso molda. É uma das faces da desigualdade no Brasil. A face machista, patriarcal, dominadora. Não vê esse governo provisório que temos aí? Ou interino? Não tem uma mulher. Só tem macho. E macho que não tem compromisso com a igualdade de gênero, de raça, de oportunidades, de direitos. Por isso, a gente tem de fazer política, para além de administrar a cidade. Um prefeito ou uma prefeita de São Paulo tem que ser mais do que um administrador competente. Tem que ter liderança política para interferir nos rumos da economia, nas decisões estratégicas do país.

Do que precisamos para ter mais mulheres na política?

A mulher precisa acordar para essa realidade, se empoderar, lutar para conquistar poder. Precisamos nos convencer de que a presença da mulher é importante para a nação como um todo, em uma sociedade em que metade da população é excluída politicamente. Nós somos 52% da população e menos de 10% no Congresso Nacional. Nós precisamos, podemos, queremos e temos direito a ter poder. Porque só quando temos poder é que mudamos as políticas públicas e as orientamos no sentido de atender não só às mulheres, mas também aos negros, homossexuais, índios, as minorias. Todo cidadão tem direitos plenos para o exercício de sua cidadania.

O que você, como uma mulher poderosa, diria para uma mulher se empoderar?

Eu não sou tão poderosa. Meu poder vem do povo. É nisso que eu acredito, o que me move, e que me mantém até hoje, neste estágio de vida, dando minha modesta contribuição para mudar São Paulo. E se a gente muda São Paulo, a gente muda o Brasil. Se eu tiver o povo confiando em mim, junto comigo, aí sim eu sou poderosa. Mas no dia em que eles se sentirem de alguma forma traídos, seja por mim, seja por quem for, se perde o poder. Portanto, a fonte do poder não sou eu, a fonte do poder é o povo.

Mas uma mulher eleita exerce esse poder…

Nada se faz individualmente. Não se vai a lugar nenhum. Mesmo um indivíduo eleito tem ação limitada. Esse é um dos sentimentos que a gente precisa ajudar as pessoas a superarem. Assim como o sentimento da impotência, de sentir que somos incapazes de enfrentar essa realidade trágica, aguda, grave. Precisamos nos juntar uns aos outros, somar energia, esperança, meios. É assim que a gente se anima, gera movimento, ação. E nossa energia, nosso movimento e nossa ação coletiva geram a mudança.

O que está acontecendo no Brasil?

Estamos em uma crise profunda. Uma crise que é política, econômica, social, institucional. Isso precisa ser levado em conta quando se está planejando uma ação concreta, que no meu caso é o governo de uma cidade. A crise no país interfere, determina, condiciona. E uma cidade da importância, do peso de São Paulo para o país e para o mundo não pode ficar omissa, indiferente. É preciso se posicionar, se colocar e influenciar na busca de soluções para esses graves problemas estruturais que o país vive hoje.


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