Dos privilégios

Dos privilégios

 

Lugar de Fala é o espaço dos leitores no site da Cult. Todo mês, artigos enviados por eles são publicados de acordo com um tema. O de junho de 2021 é “orgulho”


Estamos no mês do orgulho LGBT+, mas percebo que é bem difícil ultrapassar o discurso do arco-íris, dos posts do instagram, das campanhas publicitárias que espertamente capturaram esta pauta financeiramente rentável. Quando a conversa precisa entrar nas casas, nos almoços de domingo, sem a festinha, sem o colorido, o que se encontra é a sombra e o silêncio típico dos armários. Recomendo o exercício: imagine-se dentro de um armário fechado, o cheiro de guardado, a fresta de luz turvando a visão, o som abafado da vida imaginada do lado de fora. A festa pode até estar rolando do outro lado com o arco-íris e o filtro outonal que deixa as fotos lindas, mas a fresta continua estreita, o som abafado e cheiro de guardado continua inundando as narinas, refrescando a memória daquilo que não pode ser vivido ou dito. Há um discurso de moralidade, como se a felicidade do outro furasse a fila de sua própria felicidade. . . não sei. . . não consigo entender direito, escrevo para tentar elaborar.

Fiquei impactada com o dado que li em um artigo outro dia que pessoas LGBT+ vivem 16 anos a menos que a média da população da comunidade a qual pertencem, por transtornos de ansiedade, depressão e outras doenças mentais. Fora a triste expectativa de vida de pessoas trans no Brasil: 35 anos. Deve ser mesmo muito bom desfrutar do privilégio de poder manifestar o que, quando, como e com quem quiser. Parece bobo e pouco, mas é tudo quando se vê tantos sendo parabenizados por aquilo que pra você é fonte de julgamento.

 

 

 

Jana Silvestre, 41, física, mãe e carioca,
não necessariamente nesta ordem.

 

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