Desejei que não tivesse acontecido

Desejei que não tivesse acontecido

 

Lugar de Fala é o espaço dos leitores no site da Cult. Todo mês, artigos enviados por eles são publicados de acordo com um tema. O de maio de 2021 é “desejo”


Escrevi este texto em 4 de maio de 2021, dia em que o grande ator, humorista, roteirista, diretor e apresentador Paulo Gustavo faleceu.

Desejei que não tivesse acontecido.

A comoção nacional foi enorme, não só por ser o astro uma figura pública de sucesso e de grande carisma. Penso que sua morte nos comoveu também por nos remeter aos mais de 400 mil brasileiros que tiveram suas vidas ceifadas pela Covid-19 e, assim como ele, deixaram sonhos e planos para trás.

Desejei que não tivesse acontecido.

A “mãe mais famosa do Brasil” se foi depois de lutar absurdamente contra o vírus e suas complicações. Lutou como muitos milhares de brasileiros não puderam lutar, já que empunhava armas mais poderosas que a maioria. Mesmo assim, teve que se render ao mais forte.

Desejei que não tivesse acontecido.

A quem culpar?

Aos que negam a ciência, aos que banalizam a doença, aos que se aglomeram, aos que desvestem o rosto, aos que não pensam nos outros. Hoje choramos por um e por todos. Hoje os corações se apertam e se estrangulam. Não sei de onde brotarão tantas lágrimas.

Desejei que não tivesse acontecido.

Meu desejo de agora é que o sorriso apagado de muitos possam fazer sorrir outras dimensões. Que as famílias enlutadas consigam encontrar forças para prosseguir. Que não percamos a esperança de que, um dia, tudo irá passar.

 

 

Déa Araujo, 60, nasceu na cidade de Juiz de Fora, onde reside
atualmente. Odontóloga aposentada, estuda letras na UFJF.
Seu primeiro poema foi escrito aos 12 anos. Começou a
divulgar seus trabalhos durante a pandemia e já
teve vários textos publicados em sites e revistas.

 

 

 

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