De olhos bem abertos

De olhos bem abertos
A escritora Lina Meruane, autora de "Contra os filhos", "Tornar-se palestina" e "Sistema nervoso" (Foto: Lorena Palavecino)
  Um dos símbolos da revolta chilena que já dura mais de três meses é a figura de um olho sangrando. Ela aparece pintada nos muros da capital, Santiago, e também nos gritos dos milhares de manifestantes: “Querem nos cegar!”. Em 2012, a escritora chilena Lina Meruane lançou o livro Sangue no olho (Cosac Naify, 2015), com a história de uma mulher, também escritora, que vai perdendo a visão e tem de reaprender a perceber o mundo no escuro. Com ecos premonitórios, o romance recebeu prêmios importantes no México e na Alemanha, e tornou a autora conhecida no mundo literário e no ringue das ideias. Combativa, ela tem se colocado com força na oposição ao sistema neoliberal que governa o Chile há décadas. Também defendeu o direito de não exercer a maternidade em Contra os filhos (Todavia, 2018), encarando com coragem a controvérsia que se seguiu, e assumiu a identidade palestina no terreno árido do conflito em Israel, com o livro de ensaio/viagem/memória Tornar-se Palestina (Relicário, 2019). Meruane vive há cerca de 20 anos nos Estados Unidos, onde dá aulas híbridas de cultura, arte e história latino-americanas na Universidade de Nova York. Filha de médicos, tem na doença – ou na estigmatização das doenças – um tema recorrente, que desenvolve em clave de thriller. Sistema nervoso, a ser lançado no Brasil neste mês de fevereiro pela Todavia, vai nessa linha – e além. Com maestria e originalidade, ela combina relatos médicos e denúncia social, história política e poética do cosmo. São cinco capítulos, cada qual passad

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