Cúmplices de Clarice

Cúmplices de Clarice
Clarice Lispector em Berna, Suíça (Foto Acervo Paulo Gurgel Valente)
  Por ocasião dos quarenta anos de lançamento da obra e do aniversário de morte de Clarice Lispector, a editora Rocco acaba de lançar uma edição comemorativa da novela A hora da estrela. Publicada em edição de luxo, com capa dura, sobrecapa em papel vegetal e um caderno em papel cuchê com a reprodução em quatro cores de uma parcela dos manuscritos e das notas de trabalho para a novela, o livro traz ainda uma crônica introdutória de Paloma Vidal, crítica e ficcionista, mais seis ensaios sobre a novela, que na capa do livro aparecem com a designação “inéditos”, embora a maior parte deles já fora publicada no Brasil, em revistas ou livros. Trata-se de uma iniciativa editorial importante, a qual certamente alarga as possibilidades de compreensão deste que figura entre os mais conhecidos títulos no conjunto da obra clariciana, livro derradeiro, espécie de canto do cisne ou testamento em que deságuam algumas linhas de força de sua obra pregressa e, ao mesmo tempo, experimento novo, inaugural, sobretudo em função da protagonista pobre e nordestina e do viés ostensivamente social, dissonante em relação ao clichê de uma prosa intimista, psicologizante, metafísica, comumente associado à autora. Para dar conta de Macabéa, a protagonista vinda de Alagoas para o Rio de Janeiro como a própria Clarice, inventa-se um narrador masculino, Rodrigo S. M., e um modo de contar “as fracas aventuras de uma moça numa cidade toda feita contra ela” por meio de hesitações, interrupções, desvios, retomadas e explosões em que se expõem o temp

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