Crack – Reflexões para abordar e enfrentar o problema de Andréa Costa Dias

Crack – Reflexões para abordar e enfrentar o problema de Andréa Costa Dias

Abaixo o convite do lançamento que acontece amanhã e o meu texto da orelha para o livro da minha amiga Andréa Costa Dias que é a minha parceira no Sociedade Fissurada que está no prelo pela ed. Record.

“Crack – reflexões para a abordar e enfrentar o problema”

Neste livro, Andréa Costa Dias, doutora em Saúde Mental pela UNIFESP, apresenta uma reflexão objetiva sobre o Crack, a droga que vem sendo tratada por diversos setores da sociedade como o grande mal de nosso tempo.

Fruto de sua tese de doutoramento e de um intenso trabalho clínico, o texto a seguir dirige-se à necessária desmistificação da ideia da droga como mal em si que se estabelece com facilidade no contexto do senso comum alimentado pelos meios de comunicação e por setores acríticos da pesquisa em psiquiatria. Para quem vê no crack um mal em si, bastaria acabar com ele para resolver o problema de seus usuários. Andréa Dias vem mostrar que a questão das drogas em geral e do crack em particular é infinitamente mais complexa em termos históricos e socio-políticos do que se tem feito ver pela divulgação em torno do problema.

Assim, perguntas fundamentais são colocadas em cena: será que o chavão “o crack mata” é simplesmente verdadeiro pelo mero fato de ser constantemente repetido? Por que, em uma sociedade consumista e voltada para a felicidade plastificada, as drogas atraem tanto? Quem é o usuário de drogas? E, afinal, o que é isso que chamamos de “droga”? O que está por trás do caráter legal ou ilegal do seu status social?

Não seria o discurso moralizante em torno das drogas aquele que impediria uma reflexão realmente ética sobre o sentido ou a falta de sentido de seu uso? Afinal, o cinismo que atinge o sistema das drogas (Estado, economia, familia, usuário) poderia ser combatido se o problema fosse encarado corajosamente por uma sociedade capaz de autocrítica.

É isto o que este livro busca. Combatendo a retórica cientifico-religiosa contra o crack que consegue apenas falsificar o problema social mais profundo que esta dado em seu consumo, Andréa Costa Dias mostra-nos que o status do consumidor consumido não é apenas efeito da vontade pessoal de um indivíduo, tampouco é resultado da droga como um objeto maléfico e externo à condição individual de cada um. A corajosa reflexão proposta chama a pensar sobre as relações entre sociedade e indivíduo, entre instituições autoritárias e pessoas sujeitas à própria sorte. Compreender o que a condição atual do uso de drogas diz sobre nossa sociedade é tão importante quanto  entender os motivos e os efeitos sobre seu uso em escala particular ou geral.

O caminho da reflexão crítica é o único que pode nos levar a um tratamento sincero e honesto da sistêmica questão do sofrimento no contexto das drogas.  E, certamente, a crítica não manterá confortável a posição daqueles que tem medo ou preguiça de enfrentar sua própria responsabilidade na questão.

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