Cinema debutante

Cinema debutante

Luiz Pires

Inaugurando o calendário nacional de festivais, a Mostra de Cinema de Tiradentes, que chega à sua 15ª edição este ano, apresenta ao público um panorama do cinema brasileiro atual por meio de de 116 produções, sendo 31 longas, um média e 84 curta-metragens.

Entre as estreias mais aguardadas está Billi Pig, filme de José Eduardo Belmonte protagonizado por Selton Mello, grande homenageado da edição por sua evidência no cenário cinematográfico contemporâneo do país. Outros filmes estrelados pelo ator, como Lavoura Arcaica e O Cheiro do Ralo, também serão exibidos.

A programação conta também com o 15º Seminário do Cinema Brasileiro, que pretende promover encontros que abordam temas como o papel do ator no cinema brasileiro contemporâneo, o curta na era digital e o olhar estrangeiro sobre o cinema nacional.

Segundo o curador da mostra, Cléber Eduardo, a temática central da mostra discute “O Ator em Expansão”, propondo “uma valorização do trabalho do intérprete”. Leia a seguir entrevista concedida por Cléber à reportagem da CULT.

Onde: Centro Cultural Yves Alves – R. Direita, 168; Cine Praça – Largo das Forras, s/nº; Cine-Tenda-Bar-Show – Largo da Rodoviária, s/nº – Tiradentes (MG)
Quando: 20 a 28/1
Quanto: gratuito
Info.: www.mostratiradentes.com.br


CULT – O senhor está à frente da Mostra de Cinema de Tiradentes desde 2007. Como avalia este percurso?

Cléber Eduardo
– Os pontos positivos estão concentrados na liberdade para se organizar uma programação sem concessões às facilidades de marketing ou a um suposto gosto mediano do público. Os pontos negativos são de ordem pessoal. São cada vez mais filmes para se assistir, em geral de novos realizadores. E a maioria não é exatamente uma preciosidade para os olhos. Esse é, porém, o trabalho.

Como situa a Mostra no cenário de festivais de cinema do Brasil?

Situaria em janeiro e no interior de Minas Gerais. Isso pode parecer tolo, mas tem uma literalidade válida. Ser o primeiro evento de cinema brasileiro do ano tem suas peculiaridades, porque trabalhamos com alguns dos destaques do segundo semestre de 2011 [desde que inéditos em circuito comercial] e com algumas novidades.

Isso nos permite uma amostragem seletiva, menor que a do Festival do Rio, mas maior que a de Brasília, Paulínia, Recife e Gramado; além de mais aberta a diferentes estilos. Também temos uma mostra competitiva, o Aurora, apenas para diretores em início de filmografia [primeiros e segundos longas], o que tem marcado a mostra com o selo da renovação – o que é bom, mas não pode ser institucionalizado.

A temática central é “O ator em expansão”. Pode explicar o termo?

O ator se expande cada vez mais para fora do quadro e da tela, para fora daquele lugar diante da câmera ou diante do diretor nos ensaios. Há maior espaço para opinar, criar junto, discutir o roteiro, o personagem. Alguns estão a dirigir, como Selton Mello, outros a produzir seus filmes, como Wagner Moura, mas o mais importante é que há uma valorização do trabalho do intérprete.

Não significa que é apenas a valorização do profissional ou da profissão, porque muitos atores nos novos filmes são amadores, não são profissionais, não tiveram formação. No entanto, o que se quer desses atores amadores é algo que está neles, é a parte deles na criação dos filmes.

Qual o papel do ator diante do processo de criação de um filme?

Isso depende do ator, do diretor e do processo. Não existem papéis pré-existentes, mas uma relação de criação e trabalho, que pode ser mais restrita para o ator ou mais aberta à sua participação em sentido mais amplo. Ele pode não ser somente um rosto, mas uma sensibilidade e um olhar.

O cinema nacional conta com a presença de diversos atores com forte formação teatral. Acredita que há alguma relação entre o teatro e esta nova forma de fazer cinema abordada pelo tema da mostra?

Talvez os novos atores de cinema tenham menos horas de palco se comparados aos atores com essa tradição à qual se refere, mais forte nos anos 1950, 1960 e 1970. De qualquer forma, essa dinâmica mais processual e mais colaborativa tem a ver, sim, com os processos de criação dos grupos de teatro.

Mas também não podemos ignorar, nesse contexto, que muitos diretores delegam os atores para os preparadores de elenco. Isso faz com que poucos sejam diretores de cena, do ator em um espaço, do corpo em um set, de um rosto em um quadro, de modo a se preocupar mais com enquadramento, com a luz e com coisas exteriores aos atores.

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