A catástrofe e os possíveis ecosóficos

A catástrofe e os possíveis ecosóficos
Félix Guattari em entrevista no Japão na década de 1980 (Foto: Kazumi Hirose)
  “Eu sou um daqueles que viveram os anos 60 como uma primavera que prometia ser interminável; tenho, assim, dificuldades em me acostumar a esse longo inverno dos anos 80!” É assim que Félix Guattari abre seu livro Les années d’hiver (Os anos de inverno, 1986). Entre os elementos que configuram o congelamento da paisagem dos possíveis, existe um que é incontornável: o fascismo. No mesmo livro, em um texto curto e belíssimo intitulado “A esquerda como paixão processual”, Guattari nos convida a meditar sobre a importância de um acontecimento: após anos da esquerda no poder, o fascismo se impunha e se cristalizava entre os franceses. Depois da existência de um poder socialista, “cuidadoso em assegurar sua boa imagem entre os meios financeiros e as oligarquias tradicionais”, o resultado foi o “desmoronamento da capacidade coletiva de resistência ao conservadorismo, a ascensão do racismo e da entropia mortífera”. O que aconteceu? Hoje, essa questão vem sendo colocada em muitas partes do mundo. Nem sempre tendo como experiência anterior um governo de esquerda, não deixa de ser o que está em jogo quando se fala em um “avanço da extrema-direita”, eufemismo que, com Guattari, poderíamos batizar de “catástrofe ecosófica”. Essa catástrofe não designa apenas a destruição daquilo que habitualmente chamamos meio ambiente, natureza e direitos sociais — o que já seria suficientemente terrível. Há algo mais. Trata-se, também, de uma devastação da potência de um meio. Uma catástrofe que coloca verdadeiras “espéci

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