As vozes das mulheres e o indizível da Mulher

As vozes das mulheres e o indizível da Mulher
Fefa Lins, Ostras à trois, 2018. Óleo sobre painel.
  Propõe-se, de início, uma leve torção no célebre slogan feminista “O pessoal é político” para “O feminino é político”. Em meados dos anos 1970, esse jargão ecoou em diversos locais acadêmicos e fora deles, servindo também como algo que guiava os encontros feministas e as rodas de conversa, nos quais speak bitterness (“falar amargamente”) era um modo de as mulheres circularem suas vozes, a fim de mapear o que havia de comum no mal-estar que experimentavam, mas que ainda não tinha nome. Essa prática importava não só para a conscientização feminista, mas também para a elaboração de uma metodologia feminista crítica e implicada em traçar estratégias de ação política. Há certo empirismo nas produções feministas que muito interessa às elaborações teóricas e ao engajamento coletivo e político de outros grupos minoritários.  Verifica-se, então, uma potência nessa pluralidade de vozes para a transformação do mal-estar feminino em novos horizontes e potencialidades de existência. Mas não só. Há também outro lugar, e que muito dialoga com o feminismo, em que falar sobre esse mal-estar abriu caminhos produtivos. No divã de Sigmund Freud, ao qual se reservava o lugar de escutar um sofrimento feminino típico de sua época, nasceu a psicanálise. Enquanto muitos elogiam Freud pelo pioneirismo em dispor-se a ouvir o caráter sexual por trás do adoecimento das histéricas, é preciso dar às primeiras pacientes de Freud os devidos créditos, pois é de uma coragem sem tamanho que essas mesmas mulheres, tão submeti

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