Amor à antiga, amor cortês

Amor à antiga, amor cortês

 

Lugar de Fala é o espaço dos leitores no site da Cult. Todo mês, artigos enviados por eles são publicados de acordo com um tema. O de maio de 2021 é “desejo”


Sempre que penso em mulher penso na minha Efigênia

Que tem dons esborratados de me deixar estrofanto.

Um dia, sem mais nem menos, trocando mil abjuras, Efigênia propôs embrabecida:

— Vou encetar um contesto onde todos os galantes terão que provar seu corte.

Com o vencedor casarei e embraiarei praias adentro para

Sempre.

Vieram de terras longes cavalheiros de espartilho, cavaleiros de armadura,

Prontos para a guerra dura.

E deu-se o encetamento, o tal concurso iniciou-se.

De dentro de seu enclaustro Efigênia sussurrava, gemia, encausticava.

Encastelada por dias, Efigênia epilogava.

Eis que chega a minha hora, oh, que ânsia pela senhora, entro e grito sem fiasco!

Fibrino, teso, ansiável, olho de esguelha e que vejo?

Uma fieira infindável de cavalheiros mais mortos que a própria morte,

Que pejo!

— Melícia da minha vida, era por mim que esperavas.

E lá dentro a tal melgueira, entre pedaços de amor, transformou-se por instante

Em paraíso perdido, a recâmara do amor.

— Efigênia, que audácia, sou o seu selêucida, sou seu seleto, sou seu amante dileto.

Tiro correndo as roupetas, a armadura derrubo, cio no leito do amor, parvalhão  que sou, gaiato, ganho o concurso no ato. Sempre que penso em mulher, penso na minha Efigênia, rebordo logo de amor Rainha de meu troneto, inspiração de soneto, musa de amor tão perene.

 

 

Nilza Amaral Antunes de Souza mora em
Campinas, SP. É vegetariana e escritora,
com livros publicados no Brasil e no exterior.

 

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