“A amiga genial”: a obra-prima de Elena Ferrante

“A amiga genial”: a obra-prima de Elena Ferrante
(Ilustração: Fernando Saraiva)
  Encontrei Elena Ferrante em 2018, ao ver os volumes de A amiga genial – conhecida como tetralogia ou série napolitana – nas gôndolas centrais da livraria. Sabia pouco sobre a autora e nada sobre a obra, editada no Brasil em 2015 pela Biblioteca Azul, selo da Globo Livros, com tradução de Maurício Santana Dias. As capas sugeriam uma trama descomplicada, o que contrastava com o emblemático trecho de Fausto escolhido para a epígrafe. Afinal, que tipo de romance sereno seria anunciado por um diálogo entre Deus e o Diabo? A oposição me cativou, levei para casa os quatro volumes e, como milhões de leitores no mundo todo, eu os devorei em alguns dias. A pista inicial é precisa: ler a tetralogia é mergulhar em um oceano de ambiguidades, encarnadas pela amizade de Elena Greco e Rafaella Cerullo – Lenu ou Lena e Lina ou Lila, respectivamente –, desde a década de 1950 até meados dos anos 2000. Elas se conhecem no bairro onde vivem, na periferia de Nápoles, e percorrem um caminho vertiginoso, truncado e nada resolutivo, que revela as vicissitudes de ser mulher no século 20, passando por questões como o fascismo, a misoginia e as lutas pela liberdade. A amizade é tema recorrente na literatura, mas de privilégio masculino. Personagens femininas e suas relações, na tradição literária, recebiam tratamentos superficiais. Nos romances de formação, por exemplo – gênero que a tetralogia napolitana reforma –, havia dois destinos: o casamento, para aquelas que completassem o percurso da maturidade, ou a loucura e o suicídio, para as que n�

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