“Alma corsária”, de Claudia Roquette-Pinto, e outros lançamentos

“Alma corsária”, de Claudia Roquette-Pinto, e outros lançamentos

 

Em seu novo livro de poesia, a poeta Claudia Roquette-Pinto reafirma sua poética singular, que se espraia pelos sentidos e pela linguagem, em uma inflexão que “percute e ressoa — na pele, nos dias, nas montanhas, no mar e no asfalto do Rio de Janeiro”, como vem registrado na quarta-capa da obra. O livro é dividido em seis partes, “Alma corsária”, “Na estrada”, “As horas nuas”, “Poemas do Rio”, “Escritos da pandemia” e “Resumo da ópera”, que deixam entrever as diferentes esferas pelas quais a poeta transita. A solidão do sujeito que vaga em um mundo incerto e de significados abalados, como a alma corsária; a vegetação afluente das paisagens do Rio de Janeiro; ou as reflexões em meio aos “boletins da morte”, as rememorações cheias de sensações enquanto o sujeito poético vive um “maio enclausurado” durante a pandemia. Como escreve Renato Rezende na orelha da obra, “ferida e sensível às impermanências e incertezas do nosso tempo, a poeta não tem contorno, é atravessada pela vida e pelas coisas, numa ciranda incessante de encontros e perplexidades”.

Em uma mistura de poética feminista e romance policial noir, os versos de Nadine narram as circunstâncias da morte de sua protagonista, Nadine, em seu apartamento em São Paulo. Apesar de ser narrada pela própria Nadine, que tenta reconstituir seu último dia de vida e conversar, já morta, com os vizinhos para obter ajuda, a história também se abre para as outras personagens, dando voz mesmo aos suspeitos do assassinato, certamente um dos moradores de seu prédio. Como diz a protagonista, o importante não é “resolver o crime”, mas “reconstituir a cena”, pois ali, na cena sem pistas, estão as provas de um crime sexual, os indícios de que, certamente, estamos diante de mais um caso de feminicídio.

Em dez artigos, a obra organizada pelo historiador João Paulo Pimentel reflete criticamente sobre a Independência do Brasil, os acontecimentos que a desencadearam e as consequências da separação de Portugal. Cada texto é assinado por um historiador diferente e pondera a partir de diversos prismas esse processo histórico. A crise do Antigo Regime, a relação dos povos indígenas com o processo de Independência, a situação dos negros escravizados após o 7 de setembro e a receptividade da imprensa para as pautas republicanas são alguns dos temas que frequentam as páginas de E deixou de ser colônia.

Importante sociólogo com obras sobre a situação do trabalho e questões sindicais, Antonio Cattani aventura-se novamente na ficção, gênero que começou a explorar em 2015, com uma espécie de paródia satírica sobre a possibilidade de enriquecer facilmente. O protagonista Cesar Augusto de Borva Campos é um típico milionário brasileiro patético, “nacionalista… em Miami”, “empreendedor… com dinheiro público”, “meritocrático… com a herança do pai”, como afirma o autor em entrevista. Em diversas situações humoradas, sua trajetória entrelaça-se a de outras personagens que gravitam em torno da esperança de dinheiro fácil, como é tão comum nas diversas propostas e apostas que pululam na esfera das redes digitais.

Como um mundo à parte, com sua lógica e vida próprias entre os infinitos túneis que atravessam o solo das grandes metrópoles, constituem-se as linhas de metrô. Nesse palco ínfero desenvolve-se o romance de Igor Ribeiro, que acompanha os encontros e desencontros de diversos personagens que passam pelo metrô em meio a suas trajetórias pessoais. Como escreve Luiz Antonio de Assis Brasil na orelha da obra, Cuidado com o vão é um romance “sem experimentalismos vazios, mas dentro da escrita contemporânea”, que “indica um caminho, o qual não passa ao largo da solidariedade e do olhar compassivo”.


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