A pulsão de morte e sua crueldade sem álibi

Edição do mês
A pulsão de morte e sua crueldade sem álibi
  Sem dúvida, o primeiro impacto do conceito de pulsão de morte foi na noção de vida e, consequentemente, nos modelos de patologia subjacentes à psicanálise. Mas esse conceito freudiano deve, sem dúvida, seu problemático renome à natureza necessária da crueldade no humano. Até então, o sujeito freudiano era pensado a partir de um horizonte empírico/positivista da natureza. A concepção freudiana de pulsão era compatível com um modelo malthus/darwiniano de vida, isto é, como um sistema em constante expansão e limitado apenas por fatores externos do ambiente. Mas, a partir de uma série de fenômenos particularmente incoercíveis da clínica – reação terapêutica negativa, repetição de sonhos traumáticos, fenômenos patológicos de prazer com o desprazer –, começa a se mostrar insuficiente esse modelo no qual a vida é pensada em essência como coerente consigo mesma. Como Freud constrói esse conceito tão revolucionário? Em Além do princípio do prazer, o autor redefine o que entende por pulsão: se até então ela era pensada como uma tensão interna do corpo sobre o psiquismo, tensão da qual o psiquismo não poderia fugir, ela passa a ser pensada como “uma tentativa de retorno a uma situação anterior inerente a todo organismo”. Modelo que inclui o anterior, mas que abriga em suas entranhas um verdadeiro Alien. Pois ainda que todo organismo vivo tenha um número infinito de situações anteriores às quais pode retornar, a ousadia teórica de Freud foi incluir nessa linha temporal o momento anterior à existência.  De fa

Assine a Revista Cult e
tenha acesso a conteúdos exclusivos
Assinar »

TV Cult