Começando pelo esquecimento

Começando pelo esquecimento

 

Lugar de Fala é o espaço dos leitores no site da Cult. Todo mês, artigos enviados por eles são publicados de acordo com um tema. O de julho de 2021 é “memória”


Dado o tema, a pergunta primeira é se há elementos para sobre ele discorrer de um lugar de fala digno e legítimo. Concluo que sim, invertendo a origem da questão, pensando nos esquecimentos não lembrados que já ocuparam memórias e memoriais.

Esquecer é permitir o preenchimento dos espaços neurais com novos conhecimentos e saberes, mas por que a memória, exercitada, sempre volta?

Se difícil a definição da materialização de memórias e esquecimentos, na forma como nos acontece nos cérebros, a analogia com memórias artificias pode ajudar um pouco. Dos computadores, tais memórias eram avaliadas em quilobytes e, hoje, não se fala em menos de gigabytes, um milhão de vezes, adaptada pelo binário não decimal da contagem desses ínfimos e imprescindíveis bits. Essa memória se expandiu, com contração de espaços externos e sublocação de sinapses cerebrais. Não preciso mais lembrar, o esquecimento se faz presente, a memória computacional supre as lembranças de um passado registrado em arquivos corrompidos, mas salvos do amarelamento e das traças.

Memórias nos fazem registrar o caminho em direção ao fim, dizem. Compõem a essência da existência, do pensamento, da moral e dos bons – e maus – costumes. Memórias nos fazem também sofrer, inalienáveis que são – as memórias e o sofrimento – de nossa própria consciência. Daí que esquecer é curar; como qualquer remédio, a ação precisa ser localizada e balizada. Extirpar memórias a esmo parece roleta russa: às vezes acontece o encontro do gatilho com a bala.

Adilson Roberto Gonçalves, 54 anos,
meio vacinado, pesquisador da Unesp,
escrevinhador, membro do Instituto Histórico,
Geográfico e Genealógico de Campinas,
da Academia de Letras de Lorena e da
Academia Campineira de Letras e Artes
– é o que ainda lembro

 

 

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